sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Entrevista Maria da Penha Maia

Maria da Penha Maia, Líder de movimentos de defesa da mulher, 60 anos

Em 1983, Maria da Penha foi baleada pelo marido, um professor universitário, e ficou paraplégica. O ex-marido foi condenado a oito anos de prisão, mas cumpriu apenas dois e hoje está livre. Maria da Penha trabalha como coordenadora de estudos da Associação de Parentes e Amigos de Vítimas de Violência (APAVV), no Ceará.

A lei que leva seu nome completa dois anos. O que essa data representa para você?

É uma data muito importante para as famílias brasileiras. A lei vem para punir os homens agressores, mas estou ainda insatisfeita com a velocidade com que ela está sendo implementada. Ainda falta muito para ser feito por parte do governo.

Quais são as maiores dificuldades?

Apesar das mulheres estarem motivadas, ainda temos o problema da crença nas instituições. Nas grandes capitais, existe uma facilidade maior de exigir o cumprimento da lei. No interior, o acesso à informação é muito precário e as vítimas ficam à mercê da boa vontade das autoridades locais.

Qual foi o momento mais importante da sua luta contra a violência?

O marco foi quando o Brasil foi condenado pela Comissão dos Direitos Humanos por negligência no apoio de vítimas da violência. Com isso, o país tomou para si a obrigação de cumprir o tratado no qual é signatário.

O que significou essa indenização de R$60 mil paga pelo governo?

Foi uma pena simbólica que o país teve que pagar pela demora de 19 anos e seis meses para julgar o meu caso. O Brasil foi omisso em relação aos problemas de violência doméstica. O episódio chegou à Comissão Interamericana dos Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) e foi considerado, pela primeira vez na história, um crime de violência doméstica.

Qual é o seu maior desafio hoje na luta contra a violência?

Não tenho tempo para nada, a não ser trabalhar para a melhoria da qualidade de vida de inúmeras mulheres que precisam de apoio e não têm o conhecimento necessário para buscar seus direitos junto às autoridades. Trabalho com as comunidades da periferia e do interior desse país para que a situação mude.

A capital mineira passou a apresentar uma grande diminuição nas reincidências dos casos de violência. Como a senhora avalia isso?

Acho que a postura das mulheres de Minas é o fator principal neste caso. O crédito é delas. Mas não há sucesso se isso não caminhar junto com as ações do governo. A omissão deve ser extinta do poder público. (FMM)

 
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Ana Maria C. Bruni